16 de maio de 2022
A diretora corporativa de "Securities Services" comenta os planos do Cecabank, o panorama observado na indústria de gestão de ativos e os aspetos ainda não abordados em termos de regulamentação.
O papel do banco depositário independente continua a ganhar protagonismo. Nos últimos anos, observamos entidades como o grupo Bankia e as suas empresas de gestão, Santa Lucía Vida y Pensiones, Bankoa e Fineco ou VidaCaixa Seguros transferirem a sua atividade de depositária ou alargar a sua relação de negócios de "Securities Services" com o Cecabank. No final do ano passado, o grupo atingiu 297 682 milhões de euros em ativos custodiados, mais 59% que em 2020, com 89 clientes. Um dos seus objetivos agora é reforçar ainda mais a sua carteira e consolidar a sua posição na custódia de criptoativos.
O jornal El Confidencial conversou com Aurora Cuadros, diretora corporativa de "Securities Services" do Cecabank, que nos informou sobre os planos do grupo para este ano, a situação atual da indústria de gestão de ativos em Espanha e os aspetos que, na sua opinião, ainda não foram abordados em termos de regulamentação. Além disso, concede-nos uma antevisão do que encontraremos no IberianValue este ano, o encontro anual entre gestores e investidores organizado por este jornal, juntamente com o Cecabank.
P. Nos últimos anos, temos observado como muitas sociedades gestoras estão a separar a atividade de depositário da comercialização e da gestão de ativos. Será esta uma tendência que continuaremos a ver?
R. Há cada vez menos entidades depositárias. Em 2007, havia mais de 100 em Espanha. Hoje restam menos de 30, das quais, menos de quatro possuem uma dimensão significativa. Isto porque o depositário é um negócio de escala, no qual a especialização e os volumes de ativos depositados tornaram-se os principais fatores.
P. Alguns casos relevantes na história, como o caso Madoff, demonstraram a importância da custódia de ativos. Quais as possibilidades, nos dias de hoje, de voltarmos a ver casos como este?
R. Do ponto de vista do depositário, é muito difícil que eventos como este voltem a acontecer. A figura de um depositário independente garante que as ações dos gestores serão minuciosamente supervisionadas, visando o interesse final dos participantes dos veículos. Além disso, a regulamentação rigorosa dos bancos depositários prevê a total separação entre os seus ativos e os ativos dos depositantes, e veículos depositados.
P. O que foi alterado pelas sucessivas reformas legislativas na União Europeia nos últimos anos? Agora, os investidores estão mais protegidos?
R. Desde a crise financeira de 2008, a indústria de gestão de ativos tem vindo a regular aspetos que contribuem para o cuidado do investidor final, para evitar situações como as que ocorreram nesses anos. A MIFID II é o exemplo mais visível disso, mas também outros regulamentos como EMIR, SFTR ou PSDII, que contribuem de outras formas para a melhoria das condições dos mercados e têm um impacto na melhoria da proteção dos clientes.
No que diz respeito aos depositários, as sucessivas versões dos UCITS, bem como a regulamentação dos Gestores de Fundos de Investimento Alternativo, contribuíram para o estabelecimento de um quadro de ação harmonizado em toda a União Europeia que proporciona segurança jurídica aos participantes de todos esses veículos geridos e comercializados na Europa. Complementarmente, os investidores beneficiam também, em última análise, da implementação de SRD II, SFDR e Taxonomia. Não esquecer a CSDR e em particular a recente entrada em vigor do Settlement Discipline Regime.
P. O que ainda falta fazer?
R. Há necessidade de encorajar ainda mais a participação dos investidores no mercado e de contribuir para o desenvolvimento da união dos mercados de capitais. Com este propósito, a Comissão Europeia está atualmente a trabalhar na estratégia da UE para o investidor retalhista, que abordará a revisão de várias Diretivas, incluindo a MIFID II.
É também necessário fazer progressos na harmonização do Documento de Informação Principal ao investidor (KID) exigido pelos regulamentos UCITS e PRIIP, a fim de simplificar a documentação recebida pelos investidores e evitar a duplicação. Em conformidade com as obrigações de divulgação aos investidores, acreditamos que ainda há algum caminho a percorrer em termos da sua adaptação à era digital.
Por último, a finalização do quadro regulamentar do mercado de criptoativos (MiCA) proporcionará segurança jurídica tanto para as instituições financeiras como para os investidores retalhistas.
P. Da vossa posição enquanto entidade de custódia e depositário, em que cenário nos encontramos? Haverá agora menos irregularidades?
R. Em geral, e com algumas exceções, a indústria de gestão de ativos em Espanha, tem-se caracterizado por níveis extremamente elevados de robustez e segurança, em parte devido à regulamentação rigorosa e às capacidades e solidez dos agentes envolvidos.
P. Qual o papel da tecnologia nesta área? O que mudou?
R. É uma nova era para o sistema financeiro global, e a tecnologia deve estar à frente de uma banca responsável e sustentável. A custódia e depositário devem contar com uma tecnologia robusta para proporcionar a máxima funcionalidade e qualidade da plataforma, garantindo ao mesmo tempo a resistência a eventos inesperados e medidas de segurança otimizadas.
Em contrapartida, a inovação é necessária para o progresso e crescimento das nossas instituições, mas devemos também reconhecer, principalmente no contexto atual, que a inovação financeira pode ter grandes impactos adversos se a regulamentação, os sistemas de supervisão e as práticas de governação empresarial forem deficientes. A prova está nos produtos complexos que contribuíram para a crise. Acredito que a inovação financeira deve acompanhar o ritmo do mercado, de forma ordenada e empenhada, seguindo orientações de transparência e com o objetivo final de servir e proteger os interesses dos clientes.
Por esta razão, no Cecabank, elaborámos, paralelamente à implementação do nosso Plano Estratégico, um ambicioso Plano Tecnológico que, através de um investimento económico significativo, permitir-nos-á consolidar e renovar a nossa plataforma tecnológica.
P. A custódia de criptoativos é um dos eixos da estratégia do Cecabank para os próximos anos. Não é algo arriscado, dada a elevada volatilidade e especulação que este ativo envolve?
R. Como banco depositário e de custódia, não podemos deixar de explorar a possibilidade de nos tornarmos depositários de criptoativos e não apenas de criptomoedas. Visto que este é um mundo completamente novo e que ainda não existe regulamentação estável nesta área, todos os passos que estamos a dar visam dotar-nos das capacidades que nos vão permitir oferecer serviços de custódia para este novo tipo de ativos, mantendo simultaneamente a confiança que os nossos clientes depositam em nós. Por outras palavras, no dia em que começarmos a oferecer este serviço, fá-lo-emos com a confiança de que concebemos os circuitos operacionais mais sólidos do mercado.
P. O Iberian Value, encontro anual entre gestores e investidores organizado pelo El Confidencial e pelo Cecabank, terá lugar no dia 31 de maio, o que nos pode dizer antecipadamente? Quais são as tendências de investimento que estarão disponíveis para os investidores?
R. A situação instável gerada, por um lado pela pandemia, que estamos a viver, tem desequilibrado as cadeias de produção globais, e por outro lado, pela invasão da Ucrânia, está a gerar oportunidades de investimento que nos últimos anos não pareciam tão óbvias. De um ponto de vista mais estrutural e a longo prazo, a tendência centrar-se-á principalmente no investimento de impacto e nas possibilidades que a regulamentação dos investimentos dos ESG (que funcionam com critérios ambientais, sociais e de governação) irá gerar.
P. Para terminar, falemos do Cecabank. O lucro após impostos em 2021 foi de 69,2 milhões de euros, o melhor valor desde 2017 e 27% mais elevado do que em 2020. A que se deve este resultado? Qual foi a área que lhe trouxe mais receitas?
R. O Cecabank continua a crescer. Estabelecemo-nos como um banco grossista espanhol especializado em valores mobiliários, tesouraria e serviços de pagamentos. Somos a entidade de referência em "Securities Services", ou seja, serviços pós-negociação de títulos e instrumentos financeiros tais como depositário, registo-custódia, compensação e liquidação. Demonstrámos um conhecimento profundo e uma especialização crescente em serviços de custódia e depositário. As receitas nestas linhas aumentaram em 45%.
P. Qual a quantidade de ativos que gerem atualmente e qual é o objetivo para este ano?
R. No final do ano passado, o Cecabank possuía 297 682 milhões de euros em ativos custodiados, mais 59% do que em 2020, com 89 clientes incluindo bancos, caixas económicas, cooperativas, companhias de seguros e empresas de serviços de investimentos, entre outros; e o património depositado superou os 213 600 milhões de euros provenientes de 42 sociedades gestoras de OIC, FP e FCR, mais seis do que em 2020.
Além disso, ao longo de 2021, reforçámos a nossa base de clientes e a nossa carteira de serviços, permitindo-nos continuar a criar valor para o mercado. Novos clientes aderiram ou alargaram as suas relações comerciais de "Securities Services", tais como o grupo Bankia e as suas empresas de gestão, Santa Lucía Vida y Pensiones, Bankoa e Fineco, Novo Banco (fundido com a Abanca) e VidaCaixa Seguros, entre outros. Os resultados de 2021 permitem-nos continuar a garantir um elevado nível de satisfação e qualidade aos nossos clientes.
o P. Nos últimos anos o Cecabank obteve contratos com o CaixaBank, Bankia, o Kutxabank e, mais recentemente, com o Dunas Capital. Qual é o objetivo agora? Têm algum outro contrato em vista?
R. Temos um novo Plano Estratégico onde foram identificadas tanto iniciativas, como oportunidades o que contribuiria para o crescimento da ligação dos clientes e para a prestação de serviços de valor acrescentado para o desenvolvimento do negócio de "Securities Services".
P. Qual é a previsão para 2022?
R. Para o ano em curso, o nosso objetivo é manter um crescimento estável tendo em conta a crise do coronavírus e a guerra na Ucrânia.
P. Neste momento o foco está principalmente em Espanha, estão a planear redirecioná-lo para os negócios internacionais?
R. Vemos oportunidades de crescimento em Portugal e no apoio aos nossos clientes espanhóis em projetos internacionais como um banco depositário.