Entrevista publicada na revista Ecofin a 28 de janeiro de 2015
- Explique a quem conhece o funcionamento dos mercados, o que é um Depositário de Fundos.
A entidade depositária é geralmente uma entidade de crédito, embora no caso das instituições de investimento coletivo, sendo ainda a sua presença marginal, também possam ser sociedades de valores mobiliários. Mas o mais importante, é que o depositário é um dos pilares nos quais se baseia o investimento coletivo e a provisão social complementar.
Em suma, os depositários são responsáveis pela custódia dos ativos dos fundos de investimento, SICAV e fundos de pensão, e supervisionam as ações das sociedades gestoras, com a responsabilidade que isso implica.
- O Cecabank foi concebido para prestar serviços a outras instituições financeiras, inicialmente caixas económicas, mas atualmente tem clientes diferentes: bancos, cooperativas de crédito... Como podemos explicar esta transformação e como podemos convidar diferentes intervenientes no mercado para confiar os seus serviços ao Cecabank?
O Cecabank é um banco jovem fundado em 2012, mas com mais de 80 anos de experiência como entidade de crédito especializada na banca grossista. Somos um banco espanhol, independente, neutro porque não temos negócios de retalho, com um modelo aberto de prestação de serviços financeiros a todo o tipo de entidades e instituições (bancos nacionais e internacionais, empresas de valores mobiliários, gestores de fundos, companhias de seguros, grandes empresas e organismos públicos), baseado em conhecimentos especializados nas nossas três principais linhas estratégicas:
Securities Services, que inclui o depositário de OICs e fundos de pensões, e a custódia de valores mobiliários.
Tesouraria, com uma das salas de comércio mais ativas em Espanha.
E Serviços bancários, tais como os sistemas e meios de pagamento e o outsourcing tecnológico.
Tudo isto com um rácio de capital de 22,96%, bem acima da média das principais instituições financeiras europeias.
A transformação que comentava e a abertura dos nossos serviços a todo tipo de instituições presentes nos mercados financeiros são já uma realidade. De facto, em serviços como os serviços de depositário de fundos, o Cecabank é já o principal depositário espanhol independente com ativos depositados superiores a 64 000 milhões de euros.
- O Cecabank promoveu estes prémios de Excelência Profissional nos Mercados Financeiros, existe excelência ou ganância nos mercados, a imagem é gravemente prejudicada por casos de escândalo, acha que teria sido possível um Madoff espanhol?
Nos mercados financeiros, fundamentalmente encontramos riscos e oportunidades.
Para aproveitar as oportunidades sem muitos sobressaltos, é necessário ter uma formação financeira suficiente, e é altamente aconselhável ter assessoria especializada.
Em relação ao caso Madoff e aos escândalos em geral, em Espanha podemos gabar-nos de que a indústria do investimento coletivo e dos fundos de pensões não sofreu grandes impactos, em grande parte devido ao profissionalismo dos gestores, comercializadores e depositários dos fundos; e à exigente regulamentação espanhola que rege a nossa atividade, juntamente com a eficiente supervisão e inspeção dos supervisores nacionais.
– Será este um bom momento para voltar a confiar nos mercados e recuperar a imagem de credibilidade? Temos grandes profissionais em Espanha? Estamos melhor ou pior que outros mercados?
Em Espanha existem grandes profissionais e grandes instituições dedicadas a aconselhar, gerir, intermediar e depositar os investimentos dos aforradores.
Na minha opinião, o profissionalismo dos agentes, a regulamentação espanhola e europeia, e o bom trabalho dos supervisores espanhóis, colocam a nossa indústria em posição de concorrência sem quaisquer complexos com outros mercados financeiros.
– Porque são estes Prémios ECOFIN de Excelência Profissional em Mercados Financeiros importantes?
Iniciativas como estes prémios ajudam a salientar as melhores práticas nos mercados financeiros, e no Cecabank estamos convencidos de que estas melhores práticas devem ser a base para o desenvolvimento da indústria de gestão financeira e assessoria em Espanha.
– Falemos de Perspetivas 2015, porque há também uma conferência sobre este tema no dia 4 de fevereiro na Bolsa de Madrid: Como analisa o fim de 2014? Qual é a sua previsão para 2015? Será um ano para confiar, para investir, para arriscar?
Em termos de investimento coletivo e fundos de pensão, 2014 foi um ano espetacular. Para 2015 esperamos também um crescimento, mas mais moderado. Os níveis atuais dos tipos e a previsão de que se manterão nestes níveis a médio prazo, ajudados pelo quantitative easing europeia, continuarão a encorajar os detentores de poupanças a investir nos mercados financeiros através de fundos de investimento e pensões, em detrimento dos depósitos, mas logicamente com uma taxa de crescimento menor do que em 2014.
Quanto aos mercados, o consenso dos analistas prevê um ano com uma evolução favorável nos mercados de renda variável europeus embora com maior volatilidade, e rendimentos modestos na renda fixa, que tal como em 2014 levará a uma transferência de ativos de fundos mais conservadores para fundos com um nível de risco um pouco mais elevado, tais como os fundos mistos.
– Pensa que o desenvolvimento de plataformas de investimento e o acesso a um público não profissional introduz riscos no sistema, e devem os agentes e corretores ser os únicos a gerir estes robots de investimento? Qual será o final deste desenvolvimento tecnológico e o possível desaparecimento do profissional de mediação?
Não acredito que o desenvolvimento de sistemas de investimento automatizados e o acesso aos mesmos por parte do público em geral com suficiente formação financeira e experiência na contratação dos produtos disponíveis sejam fatores que aumentem o risco por si só. Ainda menos no caso dos investidores de retalho tradicionais, que não movimentam volumes significativos.
Quanto à segunda pergunta, não vejo o motivo para não dar ao investidor final acesso a este tipo de avanços tecnológicos. Pelo contrário, as alternativas ou novos sistemas devem ser disponibilizados aos investidores, cabendo-lhes a eles decidir se os utilizam ou não, dependendo se satisfazem ou não as suas necessidades ou objetivos de investimento.
Finalmente, como com qualquer avanço técnico, os sistemas irão melhorar com o tempo e a experiência, mas não irão ameaçar a sobrevivência da assessoria financeira especializada e de qualidade.