Aurora Cuadros / Diretora corporativa de Securities Services do Cecabank
A associação que representa os principais agentes de capital privado em Espanha, a SpainCap, considerou os 8735 milhões de euros de investimento de capital privado espanhol atingidos em 2022 um recorde histórico. Pelo seu lado, a CNVM avaliou recentemente os ativos dos veículos alternativos em cerca de 47 mil milhões de euros.
Todo isso num contexto económico repleto de incerteza. No passado ano, no início da invasão russa da Ucrânia, a crise energética e a extensão dos efeitos da crise iniciada em 2021 nas cadeias de abastecimento após a COVID-19 contribuíram para a escalada dos preços que colocou a inflação na Europa a níveis de dois dígitos no final de 2022 e em cerca de 8% nos EUA. Esta conjuntura conduziu a um endurecimento das políticas monetárias dos bancos centrais, provocando um abrandamento da economia até ao ponto de uma recessão incipiente na Europa, ao registar uma nova contração do PIB no primeiro trimestre, à semelhança do que aconteceu no último trimestre do ano passado. Outras manifestações deste processo de endurecimento foram a crise dos bancos regionais norte-americanos, a sua réplica europeia com o Credit Suisse e os choques no preço dos CDS, sem esquecer as convulsões no mundo cripto com os escândalos das plataformas Celsius e FTX.
No que respeita aos efeitos sobre os investimentos alternativos, a luta contra a inflação desencadeada pelos bancos centrais fez-nos sair de forma abrupta de um período de oito anos de taxas negativas. A escalada vertiginosa das taxas de juros provocou um aumento dos rendimentos da renda fixa, após um exercício com quedas de dois dígitos. Como consequência, o apetite por esta classe de ativos foi reativado, competindo e pressionando as expetativas de retorno dos investimentos alternativos. Por outro lado, o financiamento das operações, tão habitual nos mercados privados, tornou-se mais caro, o que teve repercussões nas margens.
Benefícios para as carteiras dos investidores
Não obstante, é em ambientes turbulentos como este que algumas das qualidades deste tipo de investimentos se destacam: proporcionam vias alternativas de rentabilidade, pelas quais os investidores ansiavam, sobretudo durante os anos em que vivemos num contexto de taxas negativas; e, ao mesmo tempo, contribuem para a diversificação das carteiras.
Se bem que os benefícios sejam patentes, existem também fatores que devem ser considerados quando se fazem estes investimentos, como a limitação temporal, sendo os períodos de reembolso de dez anos comuns no capital privado. No caso dos investidores de retalho, é essencial reforçar as capacidades de assessoria para assegurar a adequação do produto ao cliente em questão, evitando a exposição das entidades a riscos de reputação. De facto, a CNMV está a demonstrar um maior interesse em matéria de supervisão, tal como já o evidenciou em várias ocasiões.
Financiamento da economia da UE e alavancas regulamentares
Este tipo de veículos e a sua inclusão nas soluções de investimento, impulsionadas pelas entidades comercializadoras e os assessores, não beneficiam apenas os investidores. Estão também em alinhamento com a iniciativa europeia Capital Market Union. No âmbito desta iniciativa, as entidades reguladoras procederam à atualização de diferentes normas, bem como à produção de novas normas, com a finalidade de impulsionar a canalização de recursos para a economia real europeia.
Entre estas normas, encontram-se a Lei 18/2022 sobre a criação e crescimento de empresas e a reforma do Regulamento ELTIF relativo aos fundos europeus de investimento a longo prazo (FILPE, em espanhol). Por outro lado, está em curso a revisão da Diretiva relativa aos gestores de fundos de investimento alternativos e de regulamentações como o Regulamento dos planos e fundos de pensões e o Decreto 92/2007 no âmbito das EPSV, que contemplam, entre outros aspetos, facilitar o acesso destes veículos às diferentes opções oferecidas pela regulamentação dos Fundos de Investimento Alternativo (FIA) e que abrangem o capital privado.
Nesta mesma linha de flexibilização do acesso a este tipo de investimento, o Conselho de Ministros aprovou, a 13 de junho, a tramitação administrativa urgente do projeto do Real Decreto que altera o Regulamento relativo às instituições de investimento coletivo. Entre outras questões, esta alteração inclui a transferência para os organismos de investimento coletivo de tipo aberto das flexibilidades recentemente reconhecidas para os organismos de investimento coletivo de tipo fechado pela Lei 18/2022.
Oportunidades e contribuição das entidades depositárias
Neste contexto, a crescente apetência dos investidores institucionais, juntamente com a potencial inclusão de investidores de retalho - sujeitos a determinadas condições - no investimento alternativo, representa uma clara oportunidade de crescimento tanto para as sociedades gestoras como para as depositárias.
A inclusão de investidores de retalho nestes produtos exige a nomeação de um depositário. É por esta razão que as caraterísticas destes veículos sublinham a importância de dispor de entidades depositárias que reúnam uma série de atributos que permitam cimentar a confiança dos investidores.
Neste sentido, no Cecabank contribuímos para o sistema de investimento coletivo no seu conjunto e, em particular, para o investimento alternativo, com a nossa posição de liderança absoluta como depositário em Espanha e Portugal. Uma liderança escorada em valores como a independência, a neutralidade, a especialização e a capacidade de investir e colocar à disposição das entidades um ecossistema que permite beneficiar da tecnologia. Valores que consolidam a entidade como o melhor companheiro de viagem para gestoras e investidores.