16 de junho de 2022

A figura do depositário fortalece o sistema face à ascensão dos ativos alternativos

Funds People

Adaptabilidade foi o termo mais repetido na primeira mesa redonda realizada no evento da FundsPeople sobre O Futuro dos Depositários. Os ativos alternativos estão a atrair o interesse de todos os intervenientes do setor da gestão de ativos, o que não surpreende, uma vez que tanto o contexto anterior, como o atual fazem com que se procurem noutros ativos as rentabilidades que os ativos tradicionais não estavam nem estão a proporcionar. A sua incursão no setor não está, contudo, isenta de novas exigências e responsabilidades. Mudanças estas que no caso do setor dos depositários afeta, e muito, o seu trabalho de custódia e vigilância.

A mesa, moderada por Gregorio Arranz, secretário-coordenador da ADEPO, centrou o debate no papel do depositário perante o crescimento dos ativos ilíquidos, a sua constante adaptação, as áreas de trabalho que mais foram afetadas e nos produtos que estão a registar maior procura.

O papel do depositário

Todos os oradores são unânimes em afirmar que estamos a falar de um setor muito heterogéneo, dinâmico e com muitas ideias. Neste cenário, “o valor acrescentado vai mais além da norma. É importante entender o que as sociedades gestoras querem fazer, adaptar-se às necessidades dos clientes", salienta Felipe Guirado, responsável de Vendas para Espanha e Portugal do BNP Paribas Securities Services. Um aspeto importante assinalado é a dimensão das entidades. Destaca como uma força do setor o processo de consolidação. “Ser global significa dispor de mais informações, algo muito importante quando se trata de prestar serviços às sociedades gestoras”, explica.

Saber adaptar-se implica, além disso, mudanças nos procedimentos. Mas, neste aspeto, “o depositário oferece muito e a existência da sua figura por si só fortalece o sistema”, afirma Aurora Cuadros, Diretora Corporativa de Securities Services do Cecabank. Acrescenta que "a ação de supervisão dos depositários oferece às sociedades gestoras a possibilidade de cumprirem as suas obrigações para com o regulador. Governação para quem tem todos os tipos de obrigações e operabilidade para proteger os interesses dos clientes”. Em suma, nas palavras de Cuadros, o objetivo do depositário é "atingir o equilíbrio".

Mudança na tipologia de investimento

Encontramo-nos num contexto muito diferente do que existia há uma década. Neste sentido, María Dolores Domínguez Haro, responsável do serviço de Depositário do BBVA, observa que, “ainda que o depositário não desempenhe uma função direta nesta tipologia de ativos, estar alinhados com o supervisor e criar um sistema de supervisão enriquecedor, constitui uma garantia para o participante por detrás deste tipo de veículo”. De acordo com Domínguez Haro, “a especialização das equipas e a experiência tecnológica ajudarão a figura do depositário a desempenhar um papel relevante em tudo o que esteja relacionado com os ativos alternativos”.

Neste sentido, Alejandro de los Ojos, Diretor de Vendas e Relação com Clientes do CACEIS Bank Spain, explica que “a mudança progressiva verificada nas carteiras dos clientes, acompanhada por uma nova tipologia de investimento, veio para ficar. Os depositários tiveram de reforçar os seus procedimentos e serviços para oferecer custódia e serviços de depositário sobre ativos que não estávamos habituados a ter há 10 anos”.

Qual o interesse?

Os oradores concordam que a chave será dar ferramentas aos nossos clientes para que possam tomar decisões de ESG.Nos últimos meses, o interesse tem-se concentrado em tudo o relacionado com o investimento com uma componente ambiental, descarbonização… Mas também tem havido interesse no real estate e nos fundos de financiamento ou de dívida, que estão a substituir o financiamento da banca.

Não obstante, o que se interpreta, de acordo com Alejandro de los Ojos, “é que estas novas estruturas abraçam e têm um componente ESG, tanto quando se trata de investir com um estilo direto, como através de participadas”.

Tecnologia, a principal alavanca

A tecnologia tem sido um ponto importante para alcançar a adaptabilidade discutida durante a mesa redonda. Os tempos voláteis em que vivemos provocaram uma aceleração da tecnologia para os depositários e sociedades gestoras, onde o setor depositário teve de acelerar muitos investimentos.Todos concordam que estamos perante um setor que demonstrou estar maduro e preparado com planos de contingência que funcionaram.  Mas estamos perante um processo constante, tal como María Dolores salientou, "existe a necessidade de os depositários se adaptarem ao surgimento de novos produtos, como o blockchain”.

A este respeito, o evento contou com uma apresentação sobre criptoativos de Carlos Navarro, responsável de Blockchain & Digital Assets da Deloitte em Espanha. O especialista sublinhou que "embora não se trate de uma disposição regulamentar, existem semelhanças entre o serviço de custódia de instrumentos financeiros e a custódia de criptoativos. Isto exige que os depositários adquiram/desenvolvam capacidades tecnológicas para prestar este tipo de serviços”.

De acordo com os dados apresentados, nos últimos anos, o mercado da custódia digital cresceu significativamente (+600% desde 2019), gerando um interesse crescente entre os investidores em financiar o desenvolvimento destes negócios.

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