9 de abril de 2021

Desafios do contexto regulador no postrading: a opinião dos especialistas

Funds People
9 abril de 2021

Uma vez mais este ano, a Deloitte realizou a sua jornada centrada nos desafios do contexto regulamentar no postrading. Nesta ocasião, Marta García, parceira da Deloitte em Risk Advisory, salientou que o início da pandemia adiou a maioria dos marcos e regulamentos no contexto de postrading. "O cenário atual no setor é semelhante ao de há um ano. Em breve serão introduzidos novos regulamentos, que terão impacto técnico e operacional e exigirão prazos muito apertados de adaptação. Em tudo isto, as novas tecnologias desempenharão um papel fundamental", explica.

Na sua apresentação, Francisco Béjar, diretor-geral adjunto da Iberclear, salientou a importância da digitalização e da promoção de novas tecnologias nos mercados de capitais. A este respeito, recordou que em setembro a Comissão Europeia publicou o plano de ação da Capital Market Union, que inclui as recomendações do High Level Forum, incluindo o papel importante da inovação tecnológica.

Para o diretor-geral adjunto da Iberclear, "é essencial estar preparado para mudanças regulamentares". Para o efeito, salientou a importância do papel da Iberclear como CSD, para assegurar este cumprimento por todo o mercado espanhol. A este respeito, afirmou que a entidade está a expandir as ferramentas e serviços para facilitar o cumprimento da regulamentação. Por fim, Béjar salientou que o trabalho da Iberclear como CSD deve basear-se em três pilares: assegurar o cumprimento da regulamentação, promover a inovação e acompanhar as entidades e emissores no sentido de um modelo mais tecnológico e eficiente.

David Galán, responsável da unidade de gestão de garantias do Banco de Espanha, centrou a sua apresentação no impacto do projeto ECMS (Eurosystem Collateral Management System) nas instituições. Galán assinalou que a migração terá lugar em modo big-bang, pelo que não haverá coexistência com os sistemas atuais. Além disso, o orador também fez questão de salientar a mudança provocada pela utilização de mensagens ISO20022 para ativos negociáveis e de mensagens XML para ativos não negociáveis.

Na sua opinião, é importante que as instituições realizem uma análise de impacto completa e um bom plano de gestão de projetos para garantir a adaptação adequada ao novo sistema.

A opinião das custódias e depositários

Ao analisar os avanços tecnológicos que se verificam no setor, Almudena Amor, responsável dos intermediários financeiros e empresas do BNP Paribas Securities Services, salientou que a indústria há muito que se dedica à melhoria dos processos e à criação de serviços.

Neste sentido, destacou os impactos que já são visíveis no mercado e que visam a mecanização dos processos, por RPA ou Machine Learning. Este grupo inclui novos canais de comunicação com os clientes, tais como o desenvolvimento de API (Application Programming Interface) ou a implementação progressiva de assistentes virtuais. Por outro lado, considera que existem outros impactos que ocorrerão a longo prazo, tais como a transformação do ambiente pós-contratação através da utilização de Distributed Ledger Technology (DLT). Nesta linha, estão a ser feitos progressos no desenvolvimento de serviços de valor acrescentado utilizando Smartcontracts na gestão de eventos empresariais. No entanto, espera que o grande impacto seja a introdução de ativos digitais. Para esta finalidade, acredita que deve haver um quadro regulamentar claro.

Javier Planelles, diretor corporativo da área de serviços operacionais do CECABANK, partilha este ponto de vista. De acordo com Planelles, "a chave é se estas tecnologias oferecem valor. É vital que o supervisor forneça um quadro estável.

De acordo com Elena Mesonero, responsável regional das soluções de negócio para a Iberia e Latam no CACEIS, os produtos mais procurados dividem-se em três áreas: regulamentação (administração corporativa ou RSC), produtos complexos e otimização dos fluxos de dados e processos.

Fernando García Rojo, responsável de vendas da Global Securities Services do BBVA, acredita que os serviços tradicionais de custódia e depositário estão entre os serviços que poderão apresentar maior crescimento nos próximos anos, em que é cada vez mais importante fornecer soluções à medida dos diferentes tipos de clientes e das suas necessidades, serviços especializados às ESI (Empresas de Serviços de Investimento) e aos seus clientes, e a gestão de ativos digitais.

No que respeita aos vários regulamentos em curso, tais como a harmonização de garantias (ECMS) e eventos empresariais (SCoRE) a nível europeu, García Rojo salienta a importância do projeto SCoRE como catalisador para garantir a homogeneidade na gestão de eventos empresariais a nível europeu. Por outro lado, acredita que o projeto ECMS atribui aos participantes um acesso mais fácil às garantias, o que por sua vez otimiza a gestão das garantias.

Quanto ao papel das soluções de e-voting numa possível homogeneização do mercado europeu de assembleias de acionistas, a Planelles não está otimista, pois ainda há um longo caminho a percorrer em cada país. Mas vê um ponto positivo. “Há um motor que é a RSC, baseado na vontade de votar responsavelmente. Neste âmbito, as custódias têm um papel importante a desempenhar", diz.

Por outro lado, o Mesonero voltou a salientar a desvantagem da falta de um quadro regulamentar abrangente para a atividade de empréstimo de valores no caso das instituições de investimento coletivo espanholas. Esta desvantagem afeta tanto os gestores, em termos de rentabilidade, como o funcionamento do mercado de valores, tendo em conta a entrada de novos regulamentos como o CSDR (fevereiro de 2022).

Finalmente, Amor considera que o principal desafio da implementação da disciplina de liquidação para clientes institucionais é a complexidade associada à gestão de penalidades e recompra obrigatória. Os clientes precisam de se adaptar para processar, controlar e transferir as penalizações a terceiros quando fazem parte de uma cadeia de custódia, o que costuma ser mais comum. Apesar desta dificuldade, existe um claro consenso sobre os efeitos positivos que a sua introdução terá na eficiência da liquidação.

Contudo, no que diz respeito à obrigação de realizar uma recompra, existe uma opinião generalizada sobre os possíveis efeitos negativos que tal recompra teria na liquidez do mercado. Por conseguinte, afirmou que na consulta pública realizada pela Comissão Europeia em fevereiro, a indústria apelou novamente a um atraso na implementação da recompra e a que esta fosse voluntária.

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