A quota de mercado dos pagamentos A2A em e-commerce em Espanha situa-se em 18%, ainda muito abaixo de outros países como a Polónia (67%), a Holanda (62%) ou a Alemanha (27%)
O ambiente regulamentar, na sequência da entrada em vigor da PSD2, está a impulsionar o seu crescimento na Europa, proporcionando um enquadramento ideal para o surgimento e auge de novas FinTechs cuja atividade se centra na implementação deste tipo de operações
As transferências A2A, ou seja, os pagamentos conta a conta efetuados diretamente entre contas bancárias, são uma das soluções de pagamento que apresentam maior potencial de inovação e adoção na Europa, se conseguirem ultrapassar os grandes desafios ao seu desenvolvimento futuro: a melhoria no tempo de execução, que atualmente pode oscilar entre 1 e 3 dias; o desenvolvimento dos pagamentos por proximidade; a implementação de pagamentos sem a presença do utilizador; e a criação de normas que permitam a interoperabilidade e a aceitação universal deste modelo de pagamento em todos os tipos de ambientes. Esta é uma das principais conclusões do relatório "Presente e futuro dos pagamentos conta a conta", no qual colaboraram a Monitor Deloitte, o Cecabank e a AEFI (Associação Espanhola de Fintech e Insurtech).
Fernando Conlledo, secretário-geral do Cecabank, explicou na introdução que “este relatório contribui de forma significativa para uma melhor compreensão das mudanças que estão a ocorrer nos pagamentos e dos possíveis cenários que teremos de enfrentar na atual situação de incerteza”.
Por sua vez, Juan José Gutiérrez, diretor corporativo de Serviços Tecnológicos do Cecabank, aludiu à importância da estandardização dos pagamentos com conta e a criação de camadas de valor para que a proposta seja atraente para o mercado.
Tal como analisado no relatório, os pagamentos conta a conta (A2A), um serviço que existe há mais de 150 anos e que tem sido amplamente adotados pelos utilizadores, potenciam um dos três pilares da estratégia europeia de pagamentos de retalho, que pretende alcançar a soberania nos meios de pagamento através da melhoria da experiência do utilizador e do alargamento dos casos de utilização possíveis face aos meios de pagamento tradicionais. A diferença reside na desintermediação das suas operações, uma vez que estas são realizadas diretamente entre instituições financeiras através de uma câmara de compensação. Desta forma, os pagamentos A2A oferecem neutralidade e abertura a terceiros, especialmente num contexto de implementação de modelos de open finance.
Um quadro regulamentar propício
O regulador europeu está a trabalhar no sentido de promover a inovação e a competitividade no setor dos pagamentos digitais, lançando as bases que contribuam para um mercado de pagamentos com maior abertura, integração e proteção dos consumidores. Este ambiente regulamentar favorável, após a entrada em vigor da PSD2, está a impulsionar o seu crescimento na Europa, proporcionando um quadro ideal para o surgimento e crescimento de novas FinTechs como as PISP, cuja principal atividade se centra no lançamento deste tipo de operações. Além disso, estão a ser desenvolvidos vários regulamentos (DMA, DSA, Regulamento de pagamentos, PSD3 e FIDA) relacionados com os pagamentos digitais e a utilização das informações, bem como a própria proposta da Comissão Europeia que pretende a generalização dos pagamentos imediatos, que ajudarão a impulsionar ainda mais este meio de pagamento.
Arturo González Mac Dowell, presidente da AEFI, salientou "a pressão sobre os custos, a maior capacidade de inovação e as ameaças das BigTech" como as principais pressões que os sistemas de pagamentos enfrentam, tendo contudo evidenciado "a vontade firme e determinada da União Europeia em conseguir soluções de pagamento de vanguarda, designadamente soluções instantâneas de pagamento conta a conta".
Além disso, o presidente da AEFI, sublinhou que “o papel das FinTech foi fundamental no avanço dos pagamentos A2A, são mais ágeis e passaram a ser considerada facilitadoras dos players tradicionais para possibilitar um avanço muito rápido”.
Um amplo potencial de crescimento em Espanha
O potencial de crescimento deste segmento de negócio em Espanha é muito elevado, onde a quota de mercado dos pagamentos A2A em e-commerce se situa em 18%, face aos 7% em 2019, mas ainda muito abaixo de outros países como a Polónia (67%), a Holanda (62%) ou a Alemanha (27%).
Gorka Briones, sócio responsável pela Monitor Deloitte em Espanha , explicou que “a adoção dos pagamentos em Espanha está a ser relativamente rápida, tal como no caso dos países onde existe uma regulamentação que incentiva este tipo de pagamentos por parte do Banco Central e a um baixo pricing”. Briones deu o exemplo da Coreia do Sul, o país líder em termos do número de transferências imediatas per capita, com um total de 141, seguida da Holanda e do Reino Unido.
O relatório tenta prever possíveis cenários futuros para os pagamentos A2A no contexto europeu, em função da existência de sistemas de pagamento interligados ou comuns que garantam a interoperabilidade e a eficiência entre os diferentes países, e do desenvolvimento, ou não, de um sistema concorrencial pan-europeu que permita gerar camadas de valor homogéneas e que contem também com a interoperabilidade. Além disso, a possível entrada em vigor do euro digital nos próximos anos, e a sua concretização, representaria um novo cenário a analisar, uma vez que os casos de utilização de ambos os meios de pagamento são absolutamente intercambiáveis.
No atual cenário de máxima incerteza no mundo dos serviços de pagamento, tanto os operadores tradicionais como os novos operadores, fornecedores e utilizadores, terão de monitorizar de forma permanente a evolução das principais variáveis para tirar partido das oportunidades ou atenuar os riscos que possam surgir no cenário futuro. Neste sentido, a Monitor Deloitte, o Cecabank e a AEFI têm a vontade de continuar a trabalhar em futuros relatórios que possam ser de interesse para o setor.
Transfira o relatório no seguinte link